quinta-feira, 9 de outubro de 2008

E aos costumes disse nada.

Afinal a montanha pariu um murganho. A presidente da Comissão Política do PSD esteve um mês em silêncio para, em dia de Red Bull Air Race, embalar os portugueses num monótono, sonolento e previsível discurso sobre o estado da nação. Com efeito, e em contraponto com a adrenalina da frenética corrida aérea no Douro, Manuela Ferreira Leite (MFL) surge pastosa, indolente e com uma mensagem insípida sem qualquer laivo de novidade – aos costumes disse nada.
MFL foi igual à imagem que temos dela: uma mulher sem sal, sem graça, tentando passar a ideia de que tudo o que é popular, alegre e desinibido não passa de brejeirices provincianas, impróprias de uma classe política (elitista, centralista e colonialista) que deambula nos poderosos corredores macrocéfalos lisboetas, e da qual MFL orgulhosamente afirma ser elemento integrante.
Nesse percurso elitista, MFL rodeia-se de um círculo de quadraturas, que servilmente se colocam de cócoras, à espera de um lugarzinho elegível nas listas para a próxima Assembleia da República. Sem qualquer tipo de pudor, essas quadraturas louvam e enaltecem, sem espírito crítico, todas as acções da líder. Esta, por sua vez, convence-se que está certa. Está pois traçado o caminho do fracasso.
O PSD é um partido basista. A sua base de apoio é sobretudo constituída por homens e mulheres simples, alegres e joviais. Homens e mulheres que sabem o que querem e o que é melhor para a sua comunidade, para a sua região, para o seu país. Homens e mulheres que não têm medo de estar com e nas massas populares. Homens e mulheres que ousam sonhar e que ousam agir.
Portugal não começa nem acaba no Orçamento de Estado. MFL se quiser sobreviver enquanto líder do PSD tem de compreender as aspirações dos homens e das mulheres deste país, aspirações essas que não se circunscrevem apenas ao esforço de contenção orçamental. As aspirações dos portugueses passam por um conjunto de reformas da estrutura do sistema político (e não apenas de reformas na estrutura) que só é possível com uma profunda revisão constitucional.
Portugal necessita de uma outra Constituição. Por isso é imperioso que MFL assuma um papel proactivo e coloque, desde já, na agenda política o tema da revisão constitucional. Ao ser o primeiro partido a colocar no centro da discussão política nacional a questão da revisão constitucional, o PSD surgiria aos portugueses com uma inovação importante e com uma imagem renovada de partido realmente interventivo e com real vocação de poder. Só não sei se MFL o quererá fazer.

Rui Pereira de Freitas
08/09/2008

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