Estamos em Julho.
É comummente aceite que as hostilidades ao lazer se iniciam em Julho. Em Julho toma forma uma catapulta de mensagens publicitárias anunciando os diferentes paraísos onde o comum dos mortais pode usufruir momentos de lazer numas retemperadoras e merecidas férias: são e-mails sugestivos, flyers coloridos na caixa do correio, vozes melódicas dos call centers a sugerir este e aquele maravilhoso pacote turístico …
Lindo! Fabuloso!
Mas … Puro engano!
Em situações de grave crise financeira o planeamento das férias transmuta-se. Passa de uma edílica ilusão para uma concreta angústia que tritura a o pensamento e aperta o coração.
O vil metal, ou melhor, a falta dele, assume agora um papel mais que decisivo na pesquisa do tal lazer veraneante. Já não existe crédito ou conta ordenado que nos valha. A crise, o fim do subsídio de férias, o IVA e o IRS a pagar em Setembro obriga-nos a desfazer o sonho das férias. É um castelo de cartas que, sem apelo nem agravo, se desmancha sobre a impotência da nossa vontade!
Há um par de anos atrás o Presidente Cavaco deu-nos o mote: vamos fazer férias cá dentro!
Atualmente, com a troica a impor os seus ditames, com o Gaspar a nos ir ao bolso e com o Garcês nos baralhar as contas, acho que deveremos ser ainda mais radicais: férias são em casa! Lar doce lar!
Se fizermos férias sem sair de casa, iremos descobrir um sem número de pormenores atractivos que farão inveja a qualquer resort das Caraíbas ou às magrebinas areias da Calheta ou de Machico: será o jardim para recuperar, a porta da dispensa para reparar e todo aquele pó acumulado atrás dos móveis para limpar. É só escolher a actividade que foi sucessivamente adiada ao longo do ano e pôr mãos à obra!
São as férias ativas que tanto se apregoa. É o exercício físico e as calorias que se despendem em domésticas atividades sem ter de pagar a um personal trainner. Enfim, serão as férias que nos vão preparar para mais um ano de envelhecimento programado sob a calamitosa batuta dos nossos ilustres governantes ao ritmo frenético da superação dos objectivos organizacionais que o administrador lá da empresa já preparou para nos infernizar a existência.
Boas Férias.
Rui Pereira de Freitas