Conquistar
a esperança
De repente, algures em 2011, Portugal acordou de um sonho. Nesse
dia, descobrimos que o país estava à beira da bancarrota e que havia
necessidade de estender a mão a quem nos podia ajudar. Chegou a “Troica” e com
ela a recessão, o desemprego, os “cortes”, aumentos de impostos e uma panóplia
de outras maldades, quase que a sugerir castigo à imprudência socrática do
descontrole orçamental e à imbecil teoria de que “as dívidas não se pagam,
gerem-se”.
A Madeira, Região Autónoma, não escapou a esse vendaval
destruidor. Se era verdade que, momentos antes, nos sentíamos todos francamente
abastados pelas bebedeiras da abundância, nesse despertar amargo para a nova
realidade as coisas surgiram diferentes. Muito diferentes.
De um momento para
outro, o mar abundante das coisas úteis e inúteis simplesmente desapareceu.
Transformou-se numa pequena poça onde apenas podíamos lançar a cana para pescar
o estritamente necessário. Decididamente, findou-se o supérfluo e extinguiram-se
os pequenos luxos.
A nova realidade socioeconómica surgiu de sopapo.
Estalou-nos na cara com estrondo. Instintivamente procurámos culpados e soluções.
Os protagonistas políticos deram-nos uns e apresentaram outras.
Por isso, foi naturalmente que em 2015 um novo ciclo
político emergiu na Região: um novo governo sustentado num renovado partido e
liderado por alguém que soube catalisar a esperança e apontar caminhos. Miguel
Albuquerque foi ao mesmo tempo janela de esperança e pólvora catalisadora da
mudança de paradigma da praxis política. Teimou em trazer o seu partido para
junto das bases retirando-o da influência exclusiva da "nomenklatura",
impôs a legalidade estatutária sobre a arbitrariedade então vigente e
estruturou uma nova forma de ser e de estar na ação política onde o insulto
estéril deu lugar à confrontação democrática e onde a cordialidade veio a se
sobrepor à rude grosseria.
Passado pouco mais de um ano deste novo ciclo político, o
processo de renovação da esperança dos madeirenses e porto-santenses mantêm-se
inalterado e passa por um constante redescobrir de compromissos políticos amplos
em torno de uma estratégia de desenvolvimento económico e social de médio prazo
que, com base num diagnóstico sério e realista, evite um novo PAEF (Programa de
Ajustamento Económico e Financeiro) e que ofereça a estabilidade e esperança que
as famílias e empresas querem, aspiram e necessitam. Só reconquistando a
esperança será possível fazer emergir, de novo, a confiança e estabilidade,
ingredientes sine qua non para o
crescimento do investimento e do emprego, crescimento esse que conduzirá a
Região de regresso ao caminho da prosperidade.
Rui Pereira de Freitas
www.francelho.blogspot.com