domingo, 31 de julho de 2016


Conquistar a esperança

De repente, algures em 2011, Portugal acordou de um sonho. Nesse dia, descobrimos que o país estava à beira da bancarrota e que havia necessidade de estender a mão a quem nos podia ajudar. Chegou a “Troica” e com ela a recessão, o desemprego, os “cortes”, aumentos de impostos e uma panóplia de outras maldades, quase que a sugerir castigo à imprudência socrática do descontrole orçamental e à imbecil teoria de que “as dívidas não se pagam, gerem-se”.

A Madeira, Região Autónoma, não escapou a esse vendaval destruidor. Se era verdade que, momentos antes, nos sentíamos todos francamente abastados pelas bebedeiras da abundância, nesse despertar amargo para a nova realidade as coisas surgiram diferentes. Muito diferentes.
 De um momento para outro, o mar abundante das coisas úteis e inúteis simplesmente desapareceu. Transformou-se numa pequena poça onde apenas podíamos lançar a cana para pescar o estritamente necessário. Decididamente, findou-se o supérfluo e extinguiram-se os pequenos luxos.

A nova realidade socioeconómica surgiu de sopapo. Estalou-nos na cara com estrondo. Instintivamente procurámos culpados e soluções. Os protagonistas políticos deram-nos uns e apresentaram outras.

Por isso, foi naturalmente que em 2015 um novo ciclo político emergiu na Região: um novo governo sustentado num renovado partido e liderado por alguém que soube catalisar a esperança e apontar caminhos. Miguel Albuquerque foi ao mesmo tempo janela de esperança e pólvora catalisadora da mudança de paradigma da praxis política. Teimou em trazer o seu partido para junto das bases retirando-o da influência exclusiva da "nomenklatura", impôs a legalidade estatutária sobre a arbitrariedade então vigente e estruturou uma nova forma de ser e de estar na ação política onde o insulto estéril deu lugar à confrontação democrática e onde a cordialidade veio a se sobrepor à rude grosseria.

Passado pouco mais de um ano deste novo ciclo político, o processo de renovação da esperança dos madeirenses e porto-santenses mantêm-se inalterado e passa por um constante redescobrir de compromissos políticos amplos em torno de uma estratégia de desenvolvimento económico e social de médio prazo que, com base num diagnóstico sério e realista, evite um novo PAEF (Programa de Ajustamento Económico e Financeiro) e que ofereça a estabilidade e esperança que as famílias e empresas querem, aspiram e necessitam. Só reconquistando a esperança será possível fazer emergir, de novo, a confiança e estabilidade, ingredientes sine qua non para o crescimento do investimento e do emprego, crescimento esse que conduzirá a Região de regresso ao caminho da prosperidade.


Rui Pereira de Freitas
www.francelho.blogspot.com