A Política e
o Narcisismo: uma mistura proibida
Não constitui novidade que a sociedade atual está cada vez
mais individualista. Isso torna-se mais notório após análise ao âmago da
atividade política. O individualismo em si não é coisa muito bera, até pode ser
um importante catalisador para o reforço da autoestima e autonomia individual,
bem como um ótimo ingrediente para o incentivo à inovação e à criatividade
cognitiva.
O problema surge quando o individualismo se transforma em
narcisismo. E na política isso é muito perigoso. E mais perigoso ainda fica quando
os políticos tornam crónico o seu padrão narcísico: transformam-se em pessoas
egoístas e arrogantes. Egocêntricos, fazem questão em exaltar o seu
brilhantismo e a sua competência, desejando intimamente passarem à condição de
deuses.
Os políticos patologicamente narcísicos passam a projetar
uma imagem exageradamente positiva de si mesmos, almejando, e até exigindo,
virem a serem admirados e elogiados por todos em seu derredor. Estão-se “nas
tintas” para com as necessidades dos outros e marimbam-se com o bem-estar dos
seus pares. Mas na verdade, e na maior parte dos casos, isso é sintoma de problemáticas
graves ao nível da autoestima. Por certo, nem sequer acreditam verdadeiramente naquilo
que propagandeiam em relação a si mesmos.
Em épocas de campanha eleitoral, os políticos narcísicos,
fazem questão em propalar competências fora do comum para resolver, de uma
assentada, todos os males do mundo. Surgem, descarados, com soluções simplistas
para questões complexas. Apresentam-se como heróis, os únicos capazes de salvar
a nação, quando, na realidade, estão apenas tirando proveito da vulnerabilidade
dos eleitores para conquistarem ou para se manterem no poder. Depois, aos
costumes, fazem nada e usam-no apenas em benefício próprio e das suas clientelas
mais próximas.
Rui Pereira de Freitas
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