A
política, os políticos, e o “Eu real versus o Eu Ideal”
Na política, como na vida, é comum haver uma franca
dissonância entre aquilo que efetivamente se é e aquilo que se gostaria de ser.
É por isso que, quando as coisas não correm de feição, os políticos tendem a
encontrar soluções internas, no seu “Eu Interior”, para superar a frustração de
não terem conseguido atingir na plenitude os objetivos primordiais a que se
prepuseram e que submeteram a sufrágio.
É aí que os ditos políticos começam, lentamente e no seu
íntimo, a ceder espaço para que o seu Eu Ideal se sobreponha ao seu Eu
Real. Trata-se de uma fantasia irrealizável, mas que promete ao político a tão
desejada paz interior.
O Eu idealizado
necessita de atingir a glória, repleto de projetos políticos demagógicos e
inacessíveis, tal a perfeição humana que pretende alcançar. Para conquistar a
glória o Eu Ideal faz exigências descabidas ao fragilizado Eu Real,
exigências essas que se robustecem através daquilo a que se apelidou de
“tirania do dever” – uma trama mais ou
menos inconsciente que obriga o político a seguir normas de conduta rígidas e
irrealizáveis. E para tornar firme essa tirania do dever, desenvolve um orgulho
exacerbado, ao mesmo tempo que, paradoxalmente, cria um sistema de desprezo por
si mesmo que o afasta ainda mais do seu Eu Real.
Essas exigências idealizadas tornam-se normalmente insuportáveis
para o político, que lança mão de medidas gerais para aliviar a tensão. Entre
estas estratégias estão as soluções expansivas, através da sedução e do
domínio. Quando predomina esta tentativa de solução, o Eu idealizado do político
pretende consolidar o domínio sobre as demais pessoas, como forma de mantê-las
controladas e distantes de si.
Por outro lado, quando adota uma solução autoanuladora,
o político elege o amor como o caminho de sua paz interior. E neste caso,
torna-se morbidamente dependente de outras pessoas, que se transformam em seu
auxiliar mágico, com capacidade para ampará-lo e resolver seus conflitos
interiores.
A terceira tentativa de solução do político é a sedução
da liberdade, através da qual pretende alhear-se da sociedade onde vive, e
manter-se impermeável numa redoma de tranquilidade.
Mas como nenhuma destas soluções idealizadas se completam, o
político passa a viver não apenas perturbado pelos seus conflitos interiores,
mas também com sérias dificuldades nas relações com os seus pares, pois o
fracasso em realizar seu Eu Ideal é exteriorizado e a responsabilidade passa
a recair, inevitavelmente, sobre as
pessoas com quem habitualmente se relaciona: na realidade, se expansivo não
consegue dominar as pessoas do seu convívio, se dependente mórbido, não encontra
o seu auxiliar mágico perfeito, e se resignado, não consegue suficiente distanciamento
do mundo para viver em paz.
Assim, e em fase de campanha eleitoral, estou em crer que o
desejável para o bem comum, seria o que o sufocado Eu Real lentamente renascesse
na sua luta contra o Eu Ideal, de forma a devolver definitivamente aos políticos
a respetiva sanidade existencial. Nem que fosse necessário recorrer a ajuda
profissional!
Rui Pereira de Freitas
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