Melindre ou
Orgulho Neurótico
Se existe
algo que nos atrapalha a vida, essa coisa é o melindre. Melindre, segundo o
dicionário Priberam, consiste na tendência para se ofender ou para se
constranger. Eu acrescentaria que o melindre nasce sobretudo do orgulho
excessivo.
O orgulho em
si não constitui problema de maior, constituindo mesmo uma oportunidade de autorreconhecimento
do seu próprio valor. Mas quando esse orgulho é manifestamente exagerado, corrói
a consciência e transforma-nos em indivíduos com sensibilidade neurótica,
tornando-nos ofendidos com qualquer coisinha.
O melindre resulta, pois, do exagero da
importância pessoal e é frequentemente acompanhado de um enorme lista de
exigências sociais. É o caso da pessoa que cruza com uma outra sua conhecida e
esta não a cumprimenta – vá lá saber-se o porquê; essa “negligência” é tida
como uma ofensa propositada. Se um amigo(a) estabelece uma relação com alguém
que se detesta, isso é tomado como uma “traição injustificável”. Se alguém a
quem se pediu um favor ou uma “cunha” se esquecer de a atender, fica logo
rotulado de pessoa com total falta de consideração. Estes são exemplos de
reações neuróticas que tornam o melindroso um “gajo chato”. Ninguém gosta de
conviver com almas tão sensíveis.
O melindroso
julga-se o centro do universo, o Rei-Sol, e sempre atribui a qualquer
comportamento alheio um valor contra ou a favor da sua pessoa. É o egocentrismo
no seu mais alto estádio. O melindroso é tenso e cansativo, derramando
infelicidade não apenas aos seus mais chegados, mas também a si próprio. Essa
infelicidade é pena capital imediata pela absurda presunção de importância.
Quem
consegue deixar de culpar e responsabilizar os outros pelos seus insucessos e
pelas suas frustrações, assumindo sem receios que existe mais mundo para além
do que consegue vislumbrar, certamente que vive bem melhor, em paz e aconchego,
consigo e com os demais.
Rui Pereira
de Freitas
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