A Serpente
e a Eva.
Hoje deu-me para cogitar na serpente e no seu simbolismo metafísico.
Na serpente e na sua representação sibilante de uma língua bifurcada propícia a
traições em surdina para satisfação de egos mal paridos e pretensiosamente auto
sobredimensionados.
A serpente, desde logo no livro do Génesis, surge como o
elemento aliciador para que o simples e puro Adão se veja coagido a trincar a maça
proibida (o fruto do conhecimento, da noção do bem e do mal) e, em consequência,
forçado a abandonar o paraíso. Aí, a Eva surge enquanto elemento catalisador da
pérfida sugestão “gourmet” da serpente: “- Toma, come e delicia-te com esta
deliciosa maçã”. Com esta sugestão de iniciativa comportamental, a serpente e a
Eva apresentam-se na génese do pecado inicial tornando-o decididamente indelével
para a vida dos humanos.
E assim sendo, o pecado original fica connosco. Talvez mais
com uns do que com outros. Mas lá que fica … fica mesmo.
Fica mesmo entranhado, esse tal pecado original, e, mesmo
com batismos e outros exorcismos, permanece sempre presente nos confins do baú
armazenador do material instintivo recalcado. Daí que, quando em presença de um
novo (e eventualmente estranho) contexto relacional, o controlo racional se
esvai um pouco, deixando emergir esse conteúdo subconsciente.
Rui Pereira de Freitas
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