Bilhardices
É comumente aceite que nós, madeirenses, somos bilhardeiros.
E não se pense que o fenómeno é apenas circunscrito ao
universo feminino. Os homens também adoram intrometer-se nas mesquinhas
especulações sobre a “vidinha” dos outros.Mas é possível estabelecer-se áreas distintas no que à bilhardice doméstica diz respeito: a bilhardice feminina desenvolve-se sobretudo à volta das dietas malucas das outras, das opções de adereços de moda bem como do tipo de relacionamentos íntimos (eventualmente secretos) desenvolvidos pelas amigas e conhecidas.
Por seu lado, a bilhardice masculina toma forma preferencialmente
sobre a escolha da marca e modelo do automóvel adquirido por fulano, sobre a
falta de organização tática do “mister” no último jogo, e, principalmente, nos
truques das “gajas” para nos darem a volta. É uma bilhardice menos especulativa
e mais afirmativa do que a congénere feminina. Aqui não há lugar ao “diz que
disse” mas antes ao “foi assim como eu digo”. E pronto!
No entanto, na área da bilhardice política, homens e
mulheres igualam-se quer ao nível da especulação maldosa, quer no desenvolvimento
de narrativas futuristas sobre “quem será quem” na esfera do poder político.
Neste momento de mudança de ciclo político onde surgiu um “novo”
PSD dirigido por uma nova liderança, é vê-los e vê-las a opinar sobre tudo e
todos. Destilam-se ódios mal compreendidos e elevam-se virtudes antes estrategicamente
esquecidas.
Aproximam-se eleições. É urgente apresentar listas de
candidatos e apontar putativos governantes. Nesta bilhardice congénita, tudo
vale para idolatrar os pares e diabolizar os pobres dos opositores. Desde a informal
e desprendida conversa de café, até ao sussurro insidioso na orelha do vizinho
(ou da vizinha), tudo é suscetível de ser utilizado para fazer valer a nossa egoísta
opinião sobre quem é mais competente ou quem estará melhor colocado para este
ou para aquele cargo político.
E com estas bilhardices não só se apimenta o quotidiano como
se contextualiza os sonhos de quem ousa sobreviver no universo onírico das diferentes
conjunturas políticas.
Rui Pereira de Freitas
1 comentário:
A bilhardice, também faz parte do mix comunicacional, pode ser uma poderosa arma, estratégia, na boca de quem sabe usá-la...
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