VAMOS ANDANDO
Vamos
andando.
Está
é a invariável resposta que obtenho quando cumprimento alguém conhecido: Aquele
cumprimento “Olá, como está?” recebe de imediato o desabafo “vamos andando”. Os
mais religiosos ainda acrescentam “na graça de Deus!”.
Trata-se
de uma resposta totalmente desconcertante pois não indica qualquer estado de
alma ou disposição física própria do cumprimentado. Mas mesmo assim vejo-me
obrigado a retorquir com um enfadado “pois é, lá vamos andando com a esperança
que a coisa não fique pior”
E
assim fica lançado o mote para uma troca de impressões sobre a atual realidade
social e política, com especial incidência na malfadada crise, na incompetência
dos políticos e na sua total incapacidade para apresentar e concretizar soluções
credíveis e realizáveis. Daí, duas situações são possíveis: ou continuamos o
nosso caminho com um evasivo “Então até à próxima. Cumprimentos lá em casa.” ou,
caso haja disposição e um café por perto, um convite para uma bica (ou para uma
jola) torna-se inevitável.
Já
no café, a amena cavaqueira que começa na crise resvala invariavelmente para
aquilo que se convencionou chamar de “corte e costura”. Nada nem ninguém fica a
salvo. Cruelmente sincera, a cavaqueira corta nesta sociedade desordenada, injusta
e incompleta. Do mesmo modo fulano e sicrano são expostos e referidos nas suas
mais íntimas circunstâncias alimentando-se o pérfido boato e o terrível vilipêndio.
E
isto tudo a propósito de irmos andando na graça de Deus!
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